´Eppure si muove! ´, António Eloy

 
Eppure si muove!

1-Temos, tanto Portugal, a Europa e a Humanidade dado passos positivos na conquista de direitos civis e políticos.
Desde meados dos anos 70 que tenho sido, com irregularidade anual pois é um grupo que renasce anualmente, membro do Partito Radicale, inicialmente italiano e posteriormente transnacional.
Federalista, não-violento, liberal-libertário, socialista, enquadrando todas as suas substantivações na prática e na discussão da polis.
A sua história é também a história da Itália e da Europa desde os tempos da II Guerra e os seus temas são os do direito liberal e transparência democrática, com idiossincrasias como epifenómenos que passaram também por Portugal o mostraram (a Cicciolina), mas também figuras incontornáveis do século XX como Marco Pannella que cá esteve a meu convite e tantos outros como Leonardo Sciacia, Bruno Zevi ou Pier Pasolini.
A luta pelos direitos de género, divórcio civil, casamento global, adopção justa, maternidade assumida, igualdade na lei, morte digna, anti-proibicionismo radical (ou traduzindo laicismo, casamento e adopção independentemente do sexo, direito ao aborto, paridade homem-mulher, eutanásia, legalização de todas as drogas) tem sido pedra de toque dos que se encontram nesta área politica, que tem também na reforma do sistema politico, na luta constante contra a limitação da democracia aos partidos e critica às suas estruturas anquilosadas e luta permanente pela reforma das instituições, e no quadro do Parlamento Europeu democracia e politica europeias.

2-Nas próximas eleições europeias, passando o tema por baixo do tapete por cá, discute-se a apresentação de listas europeias, é certo com enormes limitações e com muitos receios por parte dos conservadores e nacionalistas ou soberanistas.
Como referi num encontro liberal ibérico (e com o “risco” de levar um etarra tiro na perna) as nações políticas são uma criação do século XIX e só tem justificação cultural e à mesa, a conversa seria longa para este pequeno artigo... e a Europa só se pode afirmar e resolver os problemas da economia, do ambiente e do sistema social, além de reforçar as liberdades públicas e cívicas já referidas e substanciar instituições de defesa destas, órgãos europeus (como o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem) nesse caminho.
Com mais Europa e mais democracia na sua construção.
A regulação da economia de mercado pela política, a sustentabilidade ambiental global, um mercado de trabalho equilibrado nos direitos sociais, e direitos cívicos avançados requerem politicas estruturadas ao nível europeu, e obviamente reflectindo-se mundialmente.
A liberdade de expressão, o direito de opinião, um quadro de substantivação da Declaração Universal do Direitos Humanos como fonte da política externa comunitária e referencia obrigatória no direito interno seriam outra das referências obrigatórias (diriam outros mandatórias)

3-Num momento em que a Europa, devido à falta de qualidade das suas direcções políticas europeias e nacionais, devido também à nossa responsabilidade, seja dos que optam por acampar, seja dos que optam por continuar com o mal menor, seja dos que continuam a viver em mitologias, seja dos que leiem e só concordam, e dessa falta somos responsáveis, esta Europa está e com ela o mundo (epidemias, fomes, guerras, mortes, será que estes 4 substantivos não lembram nada???) á beira de uma ruptura.
No século XX houve duas, dramáticas, devido a isso.
No quadro das próximas eleições europeias, mas desde já também, ler, interpretar, agir com os sinais dos tempos e os ventos da história pode ser a última oportunidade.

12-VIII-11, António Eloy (Foi publicado no dia 9 no jornal Público, e merece o meu apreço)